Todas as instituições de saúde estão sujeitas a eventuais acidentes. Nesse contexto, é mais do que essencial que essas organizações monitorem seus eventos adversos para, progressivamente, impedir que eles continuem acontecendo. O Protocolo de Londres é, nesse sentido, um método de investigação de eventos adversos nas instituições de saúde, entendendo suas causas, seus efeitos e como evitar que eles aconteçam novamente.
O que é o Protocolo de Londres?
O Protocolo de Londres é um método de investigação de eventos adversos nas instituições de saúde. Publicado pela primeira vez em 2004, a metodologia propõe algumas etapas para evidenciar as vulnerabilidades nos sistemas de saúde, de forma a ajudar as instituições a pensarem em melhorias em seus processos, evitando erros e mitigando riscos.
Dessa forma, desde sua primeira versão, o Protocolo de Londres tem sido constantemente atualizado. Hoje, o método considera a cronologia do evento, os problemas nos cuidados de assistência, os fatores contribuintes e outros itens para recriar o incidente e entender onde o problema nasce.
Para que serve o Protocolo de Londres?
O Protocolo de Londres serve, sobretudo, para melhorar consideravelmente os processos e o contexto de uma instituição de saúde para evitar que eventos adversos aconteçam com frequência.
Nesse sentido, ao mapear um incidente, entendendo quais foram as causas que contribuíram para o evento acontecer, será possível pensar em soluções para os problemas que a instituição de saúde enfrenta. Assim, a organização será capaz de oferecer a melhor experiência para seus pacientes, familiares e os próprios colaboradores.
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Como fazer o Protocolo de Londres?
O Protocolo de Londres é, na prática, uma ficha com diversas perguntas sobre o incidente que aconteceu, investigando suas causas, a cronologia e seus desdobramentos. Nesse sentido, é interessante que as perguntas incluídas no “questionário” estejam relacionadas com o contexto e a realidade da sua instituição de saúde.
Para determinar o roteiro de perguntas do Protocolo de Londres, e obter todas as informações pertinentes ao incidente adverso investigado, a instituição de saúde deve seguir o passo a passo:
1. Planejamento
Planejamento sempre será a chave para uma análise bem feita. Assim, tudo começa pela decisão de analisar um incidente que, geralmente, causa graves consequências para os pacientes e seus familiares. Além disso, os incidentes escolhidos para análise costumam entregar boas lições de aprendizado para as instituições.
Durante a fase de planejamento, as organizações devem:
- Capacitar e treinar a equipe para fazer a análise;
- Contar com a liderança e com a alta direção para fazer da análise de eventos adversos uma cultura dentro da empresa;
- Orientar todos os envolvidos (inclusive pacientes e acompanhantes) sobre a importância de uma análise como a do Protocolo de Londres;
- Disponibilizar acesso para consulta de documentos e entrevista com os pacientes, seus familiares e os colaboradores da área da saúde;
- Determinar os limites da análise, como intervalos de tempo, documentos e entrevistados.
2. Formação da equipe responsável
Cada incidente tem uma equipe diferente envolvida. Dessa forma, determina-se que a equipe do Protocolo de Londres conte com, pelo menos, duas pessoas que não estejam diretamente envolvidas com o evento adverso que ocorreu.
As habilidades e qualificações dos envolvidos pode mudar de acordo com o caso que aconteceu, e não existem muitos critérios rígidos que determinem o perfil ideal. Entretanto, é uma boa prática que a equipe do Protocolo de Londres tenha:
- Algum nível de conhecimento prévio em ambiente clínico;
- Capacitações e treinamentos sobre o Protocolo de Londres e como fazer esse tipo de análise;
- Habilidades e conhecimentos específicos de acordo com as características do incidente que passará pela análise;
3. Análise de documentos
Com uma equipe formada, chega o momento de analisar os documentos pertinentes ao caso, que foram estabelecidos ainda na fase do planejamento. Essa é uma fase extensa, pois a equipe do Protocolo de Londres precisa recorrer a relatórios, prontuários, dieta do paciente…
Além disso, as instituições precisam atender a uma série de requisitos legislativos, normativos e resoluções dos órgãos fiscalizadores, como a Anvisa. No Protocolo de Londres, esses documentos também são visitados para que a equipe possa ter certeza de que não houve nenhuma inconformidade legal ou normativa.
4. Análise das áreas clínicas da instituição
O ambiente do incidente diz muito sobre o porquê de ele ter acontecido. Observar não somente os equipamentos e recursos das áreas clínicas da instituição, mas também as trocas de plantão, a relação entre os colaboradores e outros traços típicos da rotina do lugar, é essencial para entender onde as falhas nascem.
Nessa fase, indica-se que a equipe do Protocolo de Londres preste atenção em:
- Como as equipes de saúde, os pacientes e os familiares se comunicam;
- Softwares usados nas áreas clínicas;
- Dispositivos médicos usados nas áreas clínicas;
- Interação entre as equipes de saúde, os pacientes e seus familiares.
5. Condução de entrevistas
As entrevistas são o ponto focal do Protocolo de Londres. Como a equipe de análise não esteve envolvida no incidente, é importante que eles conversem com os pacientes, com os colaboradores envolvidos e com os familiares para que eles contribuam com a investigação.
A sensibilidade deve guiar a condução dessas entrevistas. Em incidentes graves, as consequências podem ultrapassar a barreira dos resultados numéricos e gerar danos à saúde e a vida dos pacientes. Por isso, a condução das entrevistas precisa de um cuidado redobrado.
Algumas dicas são:
- Fazer entrevistas individuais caso o evento demande uma maior descrição;
- Fazer grupos focais para ter diferentes perspectivas e interpretações de um mesmo fato;
- Lidar com as possíveis posições defensivas ou de culpa que os colaboradores podem se colocar;
- Estabelecer regras para a segurança psicológica dos entrevistados;
- Contar com um gerente de segurança do paciente nos casos mais graves.
6. Identificar as características do evento adverso
Durante a análise de documentos e a condução de entrevistas, a equipe do Protocolo de Londres deve ir identificando as características do incidente em questão. Assim, entre as características importantes, estão:
- Cronologia: é necessário contar o passo a passo do incidente, explicando detalhadamente como foi que ele aconteceu.
- Problemas no manejo do cuidado (PMCs): é preciso identificar quais são os manejos de assistência que deram certo, foram efetivos, e quais deram errado. Os problemas no manejo do cuidado costumam ser o foco da causa do evento adverso e, por isso, eles devem investigados a fundo.
- Fatores contribuintes: existem uma série de fatores contribuintes que influenciam os PMCs e agravam os incidentes. Nesse sentido, durante a análise, a equipe deve identificar os fatores contribuintes que aconteceram nesse caso.
- Cuidados estabelecidos: os cuidados estabelecidos são as medidas de correção dos problemas no manejo de cuidado acontecidos. Assim, é possível dizer que elas são as ações tomadas pela equipe de saúde para lidar com o caso.
7. Analise a instituição
Além das características do evento em si, é crucial que a equipe do Protocolo de Londres faça um panorama sobre as características e o contexto dessa instituição de saúde. Dessa forma, o mais importante é analisar a cultura, para ver se há uma preocupação estabelecida com cuidados do paciente.
Assim, mais do que pensar nesses cuidados, a equipe do Protocolo de Londres pode sugerir algumas mudanças de cultura para prevenir que esses erros e incidentes voltem a acontecer.
8. Faça um relatório com os resultados
Após levantar todos os dados e informações, a equipe do Protocolo de Londres deve sumarizar seus resultados em um relatório completo, que relata como a análise foi feita, reconstrói a cronologia dos eventos e explica o contexto da organização. Nesse sentido, é crucial que o relatório tenha:
- As entrevistas realizadas;
- Os documentos investigados;
- As medidas corretivas colocadas em vigência;
- Recomendações de medidas preventivas;
- Referências em teses científicas.
8. Estruture o Protocolo de Londres
Como o relatório do Protocolo de Londres pode ser realizado respondendo algumas perguntas, é interessante que a organização tenha um modelo de protocolo pré-estabelecido. Assim, a cada evento analisado, a equipe já terá um norte das informações que ela deve colher.
Dessa forma, sugerimos o seguinte modelo de Protocolo:
Os oito fatores contribuintes
Os fatores contribuintes são as características que influenciam negativamente nos cuidados com os pacientes, gerando os potenciais eventos adversos, que as organizações desejam mitigar.
Nesse sentido, são considerados oito principais fatores contribuintes:
- Fatores do paciente: complexidade da doença, barreiras de comunicação, personalidade, fatores sociais…
- Fatores dos colaboradores: nível de conhecimento, estado de saúde física e emocional, competências, comportamentos profissionais, valores pessoais, personalidade, fatores sociais…
- Tarefas: estabelecimento e estruturação de processos, documentação de protocolos, disponibilidade dos recursos necessários…
- Fatores da equipe: comunicação da equipe, supervisão, treinamento em equipe, estrutura, apoio mútuo, representação compartilhada…
- Fatores do ambiente de trabalho: capacidade e habilidades da equipe, turnos de trabalho, manutenção dos recursos e equipamentos, apoio da alta direção e da gerência…
- Tecnologias e softwares: hardware, sistemas eletrônicos de informação, conteúdo técnico, design e interface, proteção de dados, integração ao mapa de processos…
- Fatores organizacionais, gerenciais e culturais: recursos financeiros, estrutura organizacional, treinamento e capacitação, política e cultura organizacional, objetivos e metas…
- Fatores do contexto institucional: regulamentos e normas seguidas, políticas de assistência à saúde, ambiente político, parcerias com outras organizações…
Como apoiar os pacientes e familiares?
É o paciente e seus familiares que sofrem o dano mais grave de um adverso. Assim, é de suma importância que as instituições pensem em ações de apoio para os pacientes e familiares após um incidente. Nesse sentido, entre algumas ações que podem ser tomadas, estão:
- Continuar prestando apoio e cuidado ao paciente depois do incidente;
- Monitorar o comportamento do paciente após o evento adverso;
- Pedir as devidas desculpas para o paciente e seus familiares;
- Se preciso, dar apoio financeiro ao paciente e sua família;
- Garantir apoio psicológico, especialmente para o paciente;
- Ajudar em todas as necessidades imediatas desse paciente.
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Documente e armazene o Protocolo de Londres
O relatório final do Protocolo de Londres é um documento super importante, de interesse de todos os colaboradores da instituição de saúde. Por isso, ele é um documento que deve ser armazenado e disponibilizado para todos os envolvidos.
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