Empresas alimentícias carregam consigo uma característica muito única: mais do que alimentos, elas vendem momentos. As refeições diárias dizem muito sobre o perfil de quem consome, e o vínculo afetivo da comida gera certas responsabilidades para as organizações que atuam neste setor. Nesse sentido, a escolha de atender a uma certificação como a Kosher mostra certa preocupação da empresa com as escolhas religiosas de seus clientes.  

O que é certificação Kosher?  

Ao longo da Torá, o livro sagrado dos judeus, são descritas as chamadas “Leis Kashrut”. Esse conjunto de leis serve para determinar se uma pessoa que segue o judaísmo pode ou não consumir um alimento. Dessa forma, os alimentos que entram na lista do que pode ser comido são chamados de alimentos kosher.  

São inúmeros os critérios que tornam um alimento “limpo” para consumo. Listas genéricas podem sugerir que a restrição se dá apenas a alguns tipos de animais e, por isso, não haveria a necessidade de uma certificação específica. Entretanto, as Leis Kashrut possuem algumas determinações extremamente particulares, como por exemplo a carne não poder ter nenhum contato com leite.  

O certificado Kosher, nesse sentido, é um selo que comprova que os produtos de uma empresa alimentícia são kosher e, por isso, pessoas da religião judaica podem consumí-los.  

Além disso, muitos consumidores procuram alimentos Kosher para compor dietas especiais e por acreditarem em sua alta qualidade e segurança. Dessa forma, a certificação se torna um símbolo de qualidade e integridade em muitos setores da indústria alimentícia. 

O que significa produto Kosher?  

Um produto Kosher é aquele que pode ser consumido por judeus. Dentro desta lista, estão carnes de animais ruminantes com cascos fendidos, peixes com barbatanas e escamas, algumas aves, frutas, verduras e grãos que são cultivados, colhidos e processos de acordo com a lei judaica.  

Entre os alimentos proibidos, estão a maioria dos insetos, todos os répteis e mariscos, e animais como o porco, o coelho e o bagre. Além disso, há uma série de regras que regem a maneira de preparação, armazenamento e consumo desses alimentos. A carne, por exemplo, não pode ser de um animal com doenças ou ferimentos e deve haver a remoção completa de seu sangue antes do preparo.  

Para além das determinações já expostas, existem mais alguns requisitos que devem ser seguidos pelas empresas que buscam certificação Kosher, são eles:  

Animais autorizados  

É permitido o consumo de mamíferos, de forma geral, se eles houver preparação correta. Entretanto, é de suma importância ressaltar que, segundo a Torá, os mamíferos são aqueles animais que ruminam e têm cascos bipartidos. Já para as aves, existe uma lista específica com cerca de 24 espécies proibidas.  

Dois requisitos avaliam os peixes Kosher: escamas e barbatanas. A escama precisa sair com facilidade, sem causar nenhum dano na pele do animal. Além disso, o animal deve ter barbatana.  

Procedimentos adequados  

O animal não pode sofrer e nem sentir dor durante o abatimento. Por isso, é usada uma lâmina especial para cortar a traqueia e esôfago. Após a morte, há a realização de uma inspeção nos órgãos, especialmente no pulmão, do animal, que não podem conter nenhuma irregularidade. Caso houver necessidade de retirar algum vaso sanguíneo, gordura ou nervos, a realização do procedimento não pode ter nenhum derramamento de sangue.  

A carne não pode se misturar com leite em nenhum momento, e até os utensílios usados devem ser cuidadosamente separados. Os judeus também não podem ingerir sangue. Nesse sentido, existem duas formas de para extração do sangue na carne: a salga da carne e a grelhagem. Cada um dos procedimentos possui determinações específicas.  

Ovos, laticínios, gorduras e outros  

Os ovos permitidos são aqueles oriundos de aves ou peixes Kosher. Nenhum desses ovos podem ter pontos de sangue, se não eles se tornam impróprios para o consumo dos judeus. O raciocínio é o mesmo para gorduras e óleos: se forem derivados de alimentos Kosher, eles também são Kosher. Entretanto, é comum que judeus procurem empresas certificadas para ter certeza de que não houve mistura entre os alimentos.  

O leite também precisa ser retirado de um animal Kosher. Os judeus dos Estados Unidos são tão rigorosos neste requisito que a certificação se aplica somente ao leite de vaca, já que é praticamente impossível inspecionar o leite de todos os animais. 

Já no caso de queijos, eles também precisam ser feitos com um leite de animal Kosher. Queijos que são coagulados com enzimas presentes nos estômagos de animais devem ter um procedimento de fabricação diferente, com um outro agente de coagulação que seja adequado às Leis Kashrut.  

Por último, os ingredientes de outros alimentos como emulsificantes, flavorizantes, e até vinhos devem ter supervisão, assim como sua forma de fabricação. Dessa forma, empresas alimentícias precisam estar atentas a todos esses requisitos prévios para os alimentos Kosher.  

Ferramentas de Gestão e Qualidade

A história da certificação Kosher 

A atualização sobre os alimentos Kosher é constante! Rabinos e outras autoridades judaicas frequentemente estudam as leis judaícas a fim de não desperceber nenhum detalhe  – e essa é uma atividade que já acontece há bastante tempo, o que era um tipo de “garantia” para os judeus.  

Entretanto, a certificação como a conhecemos hoje começou a surgir nos Estados Unidos no final do século XIX e início do século XX. À medida que mais judeus emigravam para os Estados Unidos, eles buscavam alimentos Kosher e a demanda por esses produtos aumentou.  

A falta de regulamentação e supervisão de produtos Kosher levou muitos judeus a se preocuparem com a autenticidade dos alimentos que estavam comprando. Como resultado, surgiram organizações de certificação que ajudavam a garantir a autenticidade desses alimentos. 

Essas organizações, lideradas por rabinos e outras autoridades religiosas, supervisionam a produção, processamento e preparação de alimentos para garantir que eles atendam aos padrões Kosher. Hoje, existem muitas organizações de certificação Kosher em todo o mundo, cada uma com suas próprias práticas e padrões. 

Por que ter a certificação Kosher? 

A certificação pode trazer benefícios significativos para as empresas, aumentando a base de consumidores, melhorando a qualidade e integridade dos produtos, e abrindo novas oportunidades de mercado. Além disso, a certificação acaba sendo uma maneira de promover a diversidade religiosa e cultural e respeitar as crenças e práticas dos consumidores. 

Nesse sentido, as principais razões pelas quais uma empresa pode optar por buscar a certificação se relacionam com: 

  • Mercado: A certificação Kosher pode aumentar a base de clientes de uma empresa, já que muitos consumidores judeus e não-judeus buscam ativamente produtos Kosher. 
  • Qualidade: A certificação é  um símbolo de qualidade e integridade, e muitos consumidores acreditam que os alimentos Kosher são mais saudáveis e seguros. 
  • Conformidade com as regulamentações: Algumas empresas podem buscar a certificação Kosher para cumprir as regulamentações de determinados países ou estados, que exigem a certificação para certos produtos alimentícios. 
  • Diversidade religiosa: A certificação tem efeito  de promover a diversidade religiosa e cultural, mostrando que uma empresa é inclusiva e respeita a crença e as práticas religiosas dos consumidores. 
  • Exportação: A certificação Kosher pode abrir oportunidades para exportar produtos alimentícios para mercados internacionais, onde há uma grande demanda por produtos Kosher. 

Como obter o certificado Kosher? 

A certificação Kosher é dada por um rabino ou organização judaica qualificada, que supervisiona a produção, processamento ou preparação dos alimentos, para garantir que sejam produzidos de acordo com as leis judaicas. 

Vale mencionar que a certificação Kosher é um processo rigoroso e detalhado e, por isso, pode demorar semanas ou meses até sua conclusão. No entanto, esta é uma importante garantia para consumidores judeus e não-judeus que desejam ter certeza de que estão consumindo alimentos que seguem certos padrões de qualidade e integridade. 

As etapas do processo de certificação são:  

01. Solicitação de Certificação: 

A empresa produtora ou fabricante entra em contato com uma organização de certificação Kosher, fornecendo informações detalhadas sobre o produto ou alimento que passará pela certificação.

02. Análise de ingredientes:  

A organização de certificação Kosher revisa a lista de ingredientes do produto ou alimento e verifica a permissão pela lei judaica. 

03. Inspeção da instalação:  

Um rabino ou inspetor Kosher visita a instalação para verificar se todos os equipamentos, utensílios e procedimentos de produção são compatíveis com as leis judaicas. 

04. Supervisão de produção:  

Durante a produção ou processamento do produto, um supervisor Kosher deve estar presente para garantir a realização de todos os procedimentos de acordo com as leis judaicas. 

05. Análise final:  

Após a produção ou processamento, o produto é submetido a uma análise final para garantir que ele atenda aos padrões Kosher. 

06. Certificação e acompanhamento:  

Se o produto ou alimento atender a todos os requisitos, ele receberá uma certificação Kosher. A organização de certificação Kosher fará visitas regulares à instalação para garantir que os procedimentos estejam sendo seguidos e que o produto permaneça dentro das leis de alimentação judaicas. 

Leia também: Principais Normas e Certificações na Indústria de Alimentos

Empresas que desejam certificar mais de um de seus produtos ou serviços podem precisar passar por esse processo várias vezes. Cada categoria de alimentos possui suas próprias determinações e, por isso, precisam passar por análises específicas. Dessa forma, uma empresa que certificou suas aves, por exemplo, precisa também se certificar se quiser vender peixes ou outros alimentos Kosher. 

Ademais, é interessante considerar que judeus também costumam comprar de estabelecimentos que sigam os critérios Kosher. Nesse sentido, é uma escolha inteligente das organizações que fabricam alimentos procuram fazer parceria com açougues, restaurantes e hotéis que também sigam as Leis Kashru.  

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